quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Como uma chuvada está a dar tempestade

O Dakar está a chegar ao fim, em terras argentinas, mas desde o inicio da semana que tem sido afetado pela controvérsia entre alguns dos pilotos da Peugeot e um piloto de quads, que alegou que um dos seus pilotos o atingiu e outro não o auxiliou. E as coisas ao longo destes dias tem andando de trás para a frente, entre penalizações que foram já levantadas e ameaças de levar pilotos a tribunal.

A história é simples: durante a etapa de domingo, o holandês Kees Koolen, piloto de quads, fez queixa à Amaury Sports Organization (ASO), que organiza o Dakar, de que tinha sido tocado por um carro oficial da Peugeot, tendo ficado atolado. Carlos Sainz e Stephane Peterhansel, pilotos da Peugeot, passaram pelo local, bem como o Mini de Yazid Al-Rahji, e não prestaram auxilio ao piloto que estava em apuros. A organização chamou ambos os pilotos, e depois de investigarem, decidiam penalizar Sainz em dez minutos devido ao incidente.

Claro, o piloto espanhol clamou inocência. “Era uma zona de muita lama, acionei o sentinel, vejo que ele me vê, ele sai da pista, e nesse momento acelero, quando ele sai da pista perde o controlo, volta para a pista e eu não lhe acerto por milagre. Mas não lhe toquei. O meu carro não tem qualquer impacto e se lhe acertasse desintegrava-o, tinha sido muito pior” disse.

Contudo, o mais estranho é que Kees Koolen disse que... não tinha sido ouvido pelo Colégio de Comissários sobre este incidente.  “Estranho e estúpido. Então ninguém me pergunta nada?”, questionou, quando soube da penalização de dez minutos ao piloto espanhol. 

O holandês já conversou sobre este assunto com Sainz, mas afirma que pretende ir às últimas consequências com todo este caso, afirmando que poderia ter morrido em caso de colisão.

Estava na lama e tive muita sorte. Ele bateu no quad. Pode ver-se que o meu quad tem muito estrago. Mas ele diz que não me tocou. As minhas origens são de engenheiro mecânico e a parte do quad que está danificada, posso pedir a um engenheiro de 3D que calcule a força necessária para fazer aqui, talvez 1500 kg, talvez 2000 kg. Ele diz que nada aconteceu, porque não sentiu… Irei pedir análises técnicas de especialistas. Guardei as peças danificadas. Pensei que mas podiam roubar, mas guardei-as bem e irei dá-las a especialistas para análise. Logo veremos a força aplicada. Estive numa situação difícil, 20 centímetros para a esquerda e estaria morto. Teria sido muito mais fácil para o Carlos e para a Peugeot, porque eu não poderia estar a falar. Todos falaram nas minhas costas, ninguém me pediu desculpa, têm que proteger um piloto e a eles próprios” disse Koolen ao MotorSport.

Bruno Famin, o Diretor da Peugeot Sport, diz que a decisão de penalizar o seu piloto por parte da ASO, a organização do Dakar, é incompreensível. 

Não existe nada de concreto no processo e tudo se resume à palavra de um contra a de outro. No que nos diz respeito, está bastante claro que não existiu contacto entre o quad e o carro. Se tivesse mesmo acontecido o que o piloto do quad alega, infelizmente ele poderia já não estar cá para falar disso, dada a velocidade do carro. Todos os dados que temos correspondem à versão dos acontecimentos relatados pelo Carlos, que teve sempre um comportamento impecável", começou por dizer. 

"O piloto que alega que o seu quad ficou danificado terminou em 12º a Etapa e em 10º na Etapa seguinte, naquela que foi a segunda parte da Etapa Maratona. Esta penalização de 10 minutos é totalmente arbitrária. Os Comissários estão a punir o Carlos por não ter parado, ainda que não tenha havido choque. Além disso, mesmo que o comportamento do Carlos justificasse uma punição, esta deveria ser aplicada sob forma de multa e não com uma penalização de tempo – decidida de forma arbitrária – que afeta o decurso da prova. Portanto, como é óbvio, comunicámos a nossa intenção de recorrer da decisão. Em resultado disso, é provável que não se saiba quem é o vencedor do Dakar 2018 no sábado, à chegada a Córdoba. Pondo de lado a essência da questão, comandar a classificação com uma vantagem de 1h06m é muito diferente de comandar com 56 minutos, dada a natureza extremamente difícil das Etapas que temos pela frente nos próximos dias”, concluiu.

Já Carlos Sainz, também não está contente, e partiu para a etapa seguinte desnecessariamente nervoso com toda esta polémica: “Estou bastante aborrecido com esta decisão. A versão dos acontecimentos descrita pelo piloto do quad não corresponde à realidade. Na verdade, tudo o que fiz foi precisamente para evitarmos um acidente. Lamento o que lhe aconteceu, mas o que se passou foi que me aproximei dele e acionei o Sentinel. Ele desviou-se para o lado e olhou para mim. Havia imenso espaço, embora a estrada estivesse bastante lamacenta. Depois perdeu o controlo e voltou à trajetória. Guinei a direção para me desviar dele e, embora tenha passado perto, não houve contacto entre nós. No final, ele terminou a Etapa em 12º. Se tivéssemos colidido, é óbvio que eu teria parado. Não concordo, em absoluto, com esta decisão”, concluiu.

Contudo, esta quarta-feira aconteceu mais um episódio: a ASO, a organizadora do Dakar, decidiu retirar os dez minutos de penalização ao piloto espanhol. A decisão foi revertida depois da Peugeot cedeu à ASO os dados de telemetria do carro do piloto espanhol no momento do incidente, e da sua análise concluiu que a penalização atribuída ao espanhol não se justificava.

Desta forma, Carlos Sainz passa agora a ter um avanço de uma hora e 45 segundos sobre Peterhansel, substituindo a penalização de dez minutos por uma advertência, pedindo ao espanhol que tenha mais cuidado na ultrapassagem a outros concorrentes.

Bruno Famin disse à motorsport.com que estava satisfeito com a decisão. “A telemetria não mostra toques. Talvez um arbusto, mas nada como um impacto. O acelerómetro não registou qualquer toque, o que já tinha sido dito pelo Carlos (Sainz) Na telemetria vê-se que o Carlos segue o quad durante 12 segundos a 50Km/hora, e quando o quad perde o controlo, ele trava para 37 Km/hora. Fica claro que o Carlos travou e virou o volante para evitar o quad. Li coisas do piloto do quad, penso que o comportamento do Carlos foi perfeito e o piloto do quad deve estar agradecido ao Carlos por tê-lo evitado. Estes são os factos. Estamos contentes com o facto dos Comissários terem reconsiderado a sua decisão.” disse.

Agora, resta saber o que Kees Koolen vai dizer. Uma coisa é certa: parece que este assunto não vai terminar por aqui, e é provável que vai durar para além do Dakar deste ano.

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